O
beijoqueiro das Noites
Por: Daniel Pablo
Saulo Icaro
Tiago de Castro
Era
o último dia do São João, e nosso ícone Mateus estava disposto ir a forra. Não
tinha ficado com ninguém nos quatro dias anteriores, e olha que não foram
poucas as tentativas. Mas, esta noite ia ser diferente, tinha bolado um meio
criativo e divertido de queixar as negas.
A
ideia do narigudo, inspirada em um engenho de Fernando, consistia em um singelo
cartaz com uma simples oferta: “Troco um coração por um Beijo”, e no verso do
papel, Mateus por ser um pessimista crônico com complexo de inferioridade, já
prevendo uma negativa a sua proposta, perguntava: “Ah, por que não? Vai...”.
E
eis que de posse de seu “artefato amoroso” nosso herói foi em busca do carinho
que tanto carecia. De princípio o cartaz fez muito sucesso, todas a quem ele
exibia o papel achavam uma graça, davam risada, brincavam, mas beijar que é
bom, NADA. O cartaz serviu ao menos para que o Filósofo Achadense conseguisse
uma dança. Foi com uma guriazinha baixinha de uns 14 anos, mas o bailado nem
chegou ao meio da canção. Embriagadíssimo (como sempre), Mateus embaraçou-se
nas próprias pernas e num rodopio arrojado foi-se ao chão em retumbante queda,
e se não bastasse pagar o mico sozinho, ainda levou a pobre garota consigo no
tombo.
Desorientado, levantou-se o mais que depressa,
pediu desculpa a sua parceira de dança, que prontamente as aceitou, mas se recusou
a prosseguir no compasso de nosso amigo. Ele ainda insistiu com a menina, mas
qualquer um que tenha dois neurônios ligaria ré com cré e concluiria não ser
bom negócio bailar com um ébrio, ainda mais depois de sentir na pele as
consequências de tão arriscada atividade, tendo sido em vão portando, as súplicas
Mauteusianas, que incluíram pedido ajoelhado do nosso ídolo, que com as mãos
juntas pedia “por favor”, “me perdoa”; cena deprimente e trágica, mas como era
Mateus todo mundo achou engraçado.
Revoltado
com sua sina, e com a negativa de uma segunda dança, Mateus redobra sua
determinação de encontrar alguém, uma bela companhia que esfregaria nas fuças
de todos os seus amigos. Se dirige a frente do palco, mostra o cartaz para as
bailarinas da banda de forro, que não dão a mínima para o esquisito com um
papel A4 nas mãos. O mostrou também a um membro (sim, masculino mesmo) de uma
banda organizava o equipamento de som e demais instrumentos no palco ao lado,
que prontamente negou imaginando que nosso bravo ídolo o estava cortejando. Mas
o cara não desiste, segue em frente, e de repente topa com seu mui querido
amigo Fernando, que também tinha um cartaz, se dando bem. Essa visão surreal
reascendeu suas esperanças: “o cartaz de Doquinhas funcionou, então poderei ser
bem-sucedido também!”.E lá vai Mateus para sua tentativa mais destemperada, a
última cartada, a fronteira final, a região do Risca Faca.
Antes
de chegar ao destino que tencionava, Mateus ganha uma beijoca na face, e
interpreta isso como um bom sinal, e vejam os leitores em que nível de desespero
o cara estava, a ponto de considerar uma bitoca, que um cara (?!?!) muito do
gaiato lhe deu, como um alento divino. Mas voltando ao assunto, Mateus chega ao
Risca Faca, com aquele olhar do gatinho de botas do Shrek, olha para um sapatão
mal encarado e mostra-lhe o cartaz; em ato contínuo a sapata arranca o cartaz
das mãos do narigudo e o rasga em mil pedaços, rasgando também o coração do
pobre rapaz. Se é outra pessoa, iríamos às lágrimas, mas por Deus, era Mateus!
Então damos risada.
Transtornado,
revoltado: “como a vida pode ser assim tão injusta?” indagava a si e ao mundo,
“por que uns com tantas e eu sem nenhuma?”, “Por que todos se divertem menos
eu?”; “Será a cor da minha pele?”, “Ou meu narigão?”, “Será minha duvidosa
performance como macho?”, “Por qual motivo a humanidade inteira me nega a
oportunidade de uma namorada?”. Mil questões fervilhavam a cachola de Mateus.
Vendo a alegria dos seus amigos decidia-se a ir embora, mas a carência o fazia
voltar. E a cada ida e vinda, parava em uma barraca de capeta e comprava uma
bebida; virou muitas doses de cachaça.
Diante
de tanta consternação, os seus amigos ficaram preocupados, tendo um deles, este
humilde escriba, ter ido falar com Mateus:
Daniel:
E awe cara?
Mateus:
Hãn..., Dan!?
D: O
que é que ta pegando?
M:
Nada, só esse grupo falso, esse grupo fake.
D: Que
grupo Teu?
M:
Esse povo todo daí, esses paus no c.., vão todo mundo tomar no c..., quero que
todo mundo, incluindo você, vá se fuder, bem fudidozinho no c..., no c...,
bando de fake, vão todos os fakes tomar no c...,
A
revolta da criatura era tamanha que nem mesmo um pau de 25 centímetros foi
capaz de acalmá-lo. E antes que Duca comece a pensar besteira, o pau a que me
refiro é uma pequena, fina e pontiaguda haste de madeira, na qual são espetados
pequenos pedaços de carne assada, o famoso churrasgato de filé miau
(churrasquinho). De posse desta iguaria culinária, Mateus ainda furibundo
sacudia o espeto no ar fazendo os pedaços de carne voarem enquanto repetia os
improprérios anteriores: “grupo fake, vai todo mundo tomar no c..., no
c...zinho, bando de falsos fdps”.
De
repente Mateus acalma-se, uma baranga passa próxima a mesa em que estávamos,
chamando a atenção do nosso herói, que em mais uma tentativa de beijar grita:
- Ei
garota, ei menina! Garota me beije, garota vem cá!
E
novamente irascível:
-
Vem cá desgraça dos infernos!
O
tribufu nem dá bola para nosso amigo, que volta a carga com os insultos,
passando 15 minutos ininterruptos mandando todos, inclusive euzinho, tomar
naquele lugar.
Novamente
sereno, Mateus aproxima-se do grupo de amigos (o grupo fake de alguns instantes
atrás) e calmamente junto com todos se dirige para a saída da festa, mas
derepente ele para, parece que captou algo, uma bela, alta, lisa e esguia
criatura parece olhá-lo! Retribui nosso amigo o olhar, sente que seu momento
finalmente chegou, o tão sonhado beijo, não há o que esperar, vai em direção a
ela, envolve-a com seus braços, e ardorosamente beija UM POSTE.
A
cena é dantesca, Mateus beija o poste, deixando a baba escorrer, seus amigos
tentam afastá-lo, e depois de muito esforço conseguem; mas ele quer mais, e
agarra e beija os outros postes (mesmo Fernando “alertando” que alguns deles
eram travecos), bem como as hastes que seguram as bolas de propaganda; numa
delas enroscou-se freneticamente, em outra jura de amor eterno, beija uma
árvore e pede o telefone, diz que liga mais tarde.Foram muitos e muitos beijos,
nosso love’swarrior conseguiu sua
meta, beijou nesta noite o que não beijou nas anteriores, teve os ósculos
negados por anos, beija, e beija, beija tudo, descobre finalmente a sua opção
sexual, prova a todos que não é bicha, mas também não é hetero como supunha;revela-se
ao fim Pansexual.
P.S.
Na volta para casa, Mateus ainda com o gosto dos trecos que beijou na boca,
olha ternamente para uns pequeninos pilares numa calçada, desses que são
colocados para impedir a subida de carros no passeio, e vagarosamente se
aproxima deles, tencionando fazer o que fizera aos pobres postes da praçaCleriston,
mas é impedido por Michel Telo (também conhecido como Taylor Moon): “Epa
Mateus, Pansexualismo tudo bem, mas pedofilia não!”.